Comer alimentos ultraprocessados ​​aumenta o risco de 34 tipos de câncer (alguns raros) – 02/01/2023

O consumo de alimentos ultraprocessados ​​contribui significativamente para o aumento do risco de morbidade e morte por vários tipos de câncer, incluindo alguns tipos mais raros, como o câncer de ovário. A conclusão é de um estudo obtido com exclusividade por O Joio e o Trigo, que acaba de ser publicado em uma revista. medicina clínica eletrônicae adiciona mais evidências ao que pesquisadores de diferentes áreas vêm falando há anos.

Liderado por Kiara Chang, pesquisadora de políticas de saúde pública do Imperial Faculty London, o estudo examinou o aumento da morbidade e mortalidade causada por 34 tipos de câncer em pessoas de 40 a 69 anos.

Para fazer isso, a equipe de pesquisadores coletou dados nutricionais entre 2009 e 2012 de 197.426 pessoas registradas no UK Biobank, um banco de dados biomédico que abrange meio milhão de britânicos, e os acompanhou até janeiro de 2021.

Imagem: Arte Joia e Trigo

Uma das precauções que a equipe tomou foi não incluir pessoas com câncer em estágio inicial no estudo, disse Chang. Todos os participantes estavam livres de doença no momento da inscrição no estudo. “Ao closing do período, cerca de 16 mil dessas pessoas desenvolveram algum tipo de câncer e outras quatro mil morreram em decorrência da doença”, conta o pesquisador.

  • Cada aumento de 10% no consumo de alimentos ultraprocessados ​​aumenta o risco geral de desenvolver câncer em 2%e o risco das mulheres desenvolverem câncer de ovário aumentou em 19%.
  • Esse pequeno aumento no consumo também aumentou o risco de morrer da doença em geral (6%).câncer de mama (16%) e câncer de ovário (30%).

Segundo Renata Levy, coautora e pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública e Medicina da USP, os resultados não são totalmente surpreendentes.

“Este é um resultado apertado, mas esperado. Depende das condições relacionadas ao câncer que esses alimentos causam, como diabetes, hipertensão e obesidade, ou do desequilíbrio nutricional causado por alimentos ricos em gordura e pobres em proteínas. Renata Levy, Bolsista de Pesquisa da Escola de Saúde Pública e Medicina da USP

Há também a influência de outros ingredientes como aditivos, corantes artificiais e emulsificantes. “Eles têm sido associados a alterações na microbiota intestinal e podem ser um dos mecanismos que, por meio do acúmulo crônico e de longo prazo, podem causar doenças”.

Embora o resultado esteja de acordo com as expectativas, Levy e Chang disseram que ficaram surpresos com o aumento do risco de desenvolver câncer cerebral e ovariano, que são tipos relativamente mais raros da doença. “Conseguimos verificar isso devido ao grande número de pessoas que participaram do estudo”, diz Chang. “Agora precisamos esperar para ver se mais pesquisas confirmam a tendência que encontramos”, diz Levy.

Este é o primeiro estudo a estabelecer uma ligação direta entre vários tipos específicos de câncer e o consumo de alimentos ultraprocessados. Apenas dois estudos anteriores – um na França e outro nos Estados Unidos – analisaram a relação entre desnutrição e incidência dos cânceres mais comuns, como mama, próstata e colorretal, com resultados consistentes com os achados do estudo. estudo realizado no Reino Unido.

UP Cancer Research - A Arte do Joio e do Trigo - A Arte do Joio e do Trigo
Imagem: Arte do joio e do trigo

Consumo no Brasil cresce

Segundo especialistas ouvidos por Joio, o estudo é importante porque o consumo de alimentos ultraprocessados ​​é crescente no Brasil.
Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) BIGE, entre 2002 e 2003, a presença de alimentos ultraprocessados ​​na mesa do brasileiro period de 12,6%, mas entre 2017 e 2018 o consumo saltou para 19,7%.

A distribuição dessa ingestão, segundo o BIGE, varia conforme a idade:

  • entre os adolescentes menores de 18 anos, os alimentos ultraprocessados ​​representam 26,7% da dieta;
  • entre os adultos com menos de 59 anos, o consumo é de 19,5%;
  • entre as pessoas com mais de 60 anos, é de 15,1%.

Salgadinhos, biscoitos, macarrão instantâneo, congelados, embutidos, refrigerantes e iogurtes são apenas alguns exemplos de alimentos ultraprocessados.

O Brasil perde 57 mil vidas por ano devido ao consumo de alimentos ultraprocessados ​​– mais do que o número de homicídios que mataram 45,5 mil brasileiros em 2019.

UPS Mortes - Denise Matsumoto/ O Joio e O Trigo - Denise Matsumoto/ O Joio e O Trigo
Imagem: Denise Matsumoto/ O Joio e O Trigo

Segundo Larissa Brussa, PhD em Genética e Analista de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Fleury, o estudo traz evidências muito fortes de associação entre câncer e consumo de alimentos altamente processados, devido ao grande número de participantes e “pelo nível de detalhamento com os quais eles analisam vários tipos de câncer, o que é difícil de fazer com esse tipo de análise”.

Broussa diz que, embora as condições ambientais e os fatores genéticos sejam diferentes no Reino Unido e no Brasil, é muito provável que os resultados se apliquem aqui e em outros países.

Renata Levy explica que, assim como os estudos que relacionam o tabagismo ao câncer de pulmão, seus resultados são válidos para muitos cenários e países. “Isso porque ajustamos as condições para vários fatores – incluindo consumo de álcool, histórico acquainted de câncer, índice de massa corporal, obesidade – para garantir que estamos analisando as causas imediatas do câncer. Fizemos esses ajustes para ter certeza. que não ficamos envergonhados por outras condições ou doenças.”

  • Quase metade das calorias (48,6%) consumidas pelos participantes do estudo veio de alimentos altamente processados..

“A porcentagem é alta, mas ainda um pouco menor do que a média britânica de consumo de 54%”, diz Chang.

Em comparação, mais da metade das calorias consumidas pelos brasileiros (53,4%) vêm de alimentos in natura ou minimamente processados, segundo o BIGE. Mas isso não é motivo para relaxar, diz Ana Paula Natividade, médica e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Aruc, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Com a propagação da fome afetando 33 milhões de brasileiros e a insegurança alimentar afetando outros 92 milhões, a população vulnerável ao consumo de alimentos ultraprocessados ​​é enorme. “O desafio é acabar com a fome e ao mesmo tempo proporcionar às pessoas uma alimentação minimamente saudável”, afirma.

Doença cara, mas evitável

Dados da OMS mostram que o câncer é uma das principais causas de morte no mundo.

  • Em 2020, quase uma em cada seis mortes foi devido a esta doença.que custou quase 10 milhões de vidas naquele ano.

No Brasil, mais de 230.000 pessoas morrem de câncer e cerca de 450.000 novos casos são diagnosticados a cada ano., segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer). Entre os brasileiros, essa doença é a segunda causa de morte.

Se, por um lado, o câncer traz grandes custos emocionais e financeiros para os pacientes e seus familiares, por outro, também é um grande custo para a saúde pública.

Os custos para pacientes com mais de 30 anos com certos tipos de câncer relacionados à alimentação, nutrição e atividade física aumentarão significativamente nos próximos anos, disse o Inca. Em 2018, o SUS gastou R$ 338 milhões com esses casos. Estima-se que serão gastos R$ 828 milhões em 2030, um aumento de 145%.

A previsão de maior aumento de custos deve ser com o câncer causado pelo consumo de carnes processadas (bacon, salame, presunto e linguiça), principalmente o câncer colorretal. R$ 28 milhões foram gastos com casos relacionados a esse consumo em 2018, podendo chegar a R$ 176 milhões em 2030, um salto de 529%.

Esse aumento se justifica: segundo dados do BIGE, o consumo desse tipo de alimento quase dobrou entre 2008-09 e 2017-18, passando de cerca de 30% para cerca de 60% entre homens e mulheres com mais de 20 anos no Brasil.

Se cada brasileiro consumir menos de 50 gramas de carne ultraprocessada por dia, a economia para o sistema de saúde pode chegar a quase 170 milhões de reais até 2040.

Para a coautora Fernanda Rauber, também pesquisadora da Escola de Saúde Pública e Medicina da USP, a política governamental de controle do consumo de alimentos ultraprocessados ​​é basic. No Reino Unido, a regulamentação é muito fraca, mas aqui ela acredita que a política alimentar está desenvolvida. “As Diretrizes Alimentares Brasileiras 2014 estabelecem diversas ações e políticas governamentais, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar e novas regras de rotulagem de alimentos. Precisamos avançar em outras medidas, mas temos uma grande diferença em relação ao Reino Unido. “

Comer menos alimentos ultraprocessados ​​melhora a saúde pública e salva vidas. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, 40% dos casos de câncer poderiam ser evitados com a redução dos principais fatores de risco, incluindo o consumo de alimentos altamente processados. O tratamento nas fases iniciais da doença também é muito importante: 30% dos casos podem ser curados se detectados e tratados corretamente no início da doença.

Ana Paula Natividade, da Fiocruz, acredita que o principal obstáculo para reduzir o consumo de alimentos altamente processados ​​e, com eles, o câncer e outras doenças que eles causam, é a força da indústria alimentícia, cujo foyer é transnacional.

“Assim como temos uma Convenção-Quadro que estabelece princípios para o controle do consumo do tabaco, deveríamos ter um tratado semelhante para limitar o poder das indústrias de ultraprocessados ​​e o consumo desses produtos”, defende.

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