Gustavo Dias espera regressar ao Brasil para escapar à crise em Portugal, um sonho europeu falhado, numa altura em que as estruturas de apoio dizem que o número de novas chegadas continua a aumentar.
O custo de vida, principalmente da casa, e os baixos salários em Portugal obrigaram o jovem brasileiro Gustavo Dias a de volta ao seu país com sonhos de imigrantes despedaçadosmas com esperança na eleição e na vitória de seu candidato, Jair Bolsonaro.
Gustavo veio há um ano para Portugal, país onde foi imigrante no primeiro período dos anos 2000, e aguarda agora o seu regresso, no âmbito do programa de apoio ao regresso voluntário de imigrantes, à Organização Internacional para as Migrações (OIM).
O padre António Pires, da Costa da Caparica, afirma que a habitação cara e precária é um problema que assusta os novos brasileiros, mas a comunidade deve continuar a crescer em Portugal até que a saúde, a educação e a segurança melhorem no Brasil.
Assim, o resultado das eleições presidenciais de 30 não terá qualquer influência na imigração para Portugal, considerou o pároco, admitindo que a Costa da Caparica, destino ordinary dos brasileiros, já não é o native preferido de muitos dos recém-chegados , não pelo menos porque os custos de moradia afastaram muitos.
1 falta de locações legais também pressiona, criando uma situação de precariedade entre os inquilinos, que em muitos casos são “obrigados a procurar [casa] em outro lugar”.
“Mas, entretanto, as crianças vão para as escolas, as pessoas trabalham perto e isso torna-lhes muito difícil a vida”, sublinhou o sacerdote.
Os novos imigrantes ainda passam pela Costa da Caparica, mas “não se fixam, como noutros tempos, porque as pessoas “não têm capacidade para pagar a habitação”, acrescentou, notando que muitos optam por outras zonas mais baratas com Grande Lisboa, como o Seixal, Moita, Alcochete ou Barreiro.
Outros voltam, como a mãe de Gustavo Dias, que viu o anexo onde morava e consumia metade do salário, trabalhando em Portugal. Entretanto, Gustavo viu desaparecer a promessa de uma bolsa para estudar História em Portugal, o objetivo que o trouxera há um ano.
Em Portugal, “Temos uma educação, na minha opinião, alta, temos uma organização maior em certas coisas. No Brasil, nessa área, “tivemos problemas sérios e várias reformas”explicou o aluno que iria trabalhar em prédios de construção e em refeitórios.
Perante a falta de soluções, a família teve de recorrer a apoios sociais e alimentares na freguesia de Nossa Senhora da Conceição, acabando por decidir regressar ao Brasil, o que será a 14 de novembro, um ano depois da sua chegada.
Agora Gustavo Dias quer terminar a faculdade no Brasil para sair novamente em busca de “uma melhor oportunidade de crescimento profissional”.
De Portugal, ele disse que, já adulto, levou uma nova percepção da política em seu país, pelo que viu aqui: “Você está mais preparado politicamente” e o Brasil “ainda é uma criança trilhando o caminho da política” e da democracia .
Gustavo e sua mãe deixaram o Brasil com o presidente Bolsonaro no poder e voltarão com um novo chefe de Estado eleito, que pode ser o mesmo.
Se pudessem votar, a escolha seria de Bolsonaro, que “fez um bom trabalho com o pouco que tinha, já que o país estava muito frustrado economicamente, com várias dificuldades e conseguiu estabilizar o país”.
“Digamos que sou conservador. Então (…) eu votaria no Bolsonaro, disse a mãe de Gustavo, Maria Gorzola, frisando que o atual presidente “é muito apegado aos direitos da família” e é um “homem patriota”.
Por outro lado, “fez um bom trabalho. Não havia como fazer mais por causa da pandemia. Já levou o país com muita dívida”, mas “ainda não deu tempo de fazer muita coisa”.
Com Bolsonaro, Maria Gozolo espera que o Brasil alcance “um equilíbrio financeiro, que a inflação não suba tanto, que a educação melhore”.
Sobre Lula, Maria reconheceu que “foi um bom presidente”, mas “havia muito peculato, muita coisa deu errado”. Além disso, “por mais que tenha sido inocentado, não vejo com bons olhos”.
Para o pároco da Costa da Caparica, mais do que as eleições, é a situação social do Brasil e a violência que afeta a emigração.
“Penso que enquanto houver alguns fenómenos no Brasil que tenham a ver com educação, saúde e violência, a imigração tenderá sempre a aumentar, porque são estes os problemas de que a comunidade imigrante se queixa”, sustentou o Padre António Pires.
Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, venceu o primeiro turno da eleição presidencial brasileira com 48,4% dos votos e Jair Bolsonaro obteve 43,2%, então os dois candidatos devem se enfrentar no segundo turno.
Imigrantes brasileiros na Costa da Caparica, em Portugal, estão divididos após a votação entre dois candidatos ao segundo turno presidencial, mas unidos nas críticas ao “roubo” de políticos no Brasil e no medo da violência.
O “roubo” chega a ser constrangedor para alguns, como é o caso de Ricardo Oliveira, dono de um restaurante na Costa da Caparica. “Tenho vergonha do Brasil, do presidente, das pessoas que o administram, por causa do furto, eles roubam demais”, disse o imigrante mineiro de 46 anos.
Imigrante há pouco mais de quatro anos, “em busca de melhor economia” e também segurança, Ricardo agora só quer voltar ao Brasil “para passear”. Hoje ele diz que vai votar em Bolsonaro (extrema direita, atual presidente e candidato ao cargo) porque “ele vai roubar menos que o outro”, Lula da Silva, esquerdista e ex-chefe de Estado.
Outro cargo é assumido por Ângelo Pais, de 34 anos e em Portugal há um ano para fazer mestrado, que promete votar em Lula da Silva, tudo porque “O Brasil piorou muito nos últimos quatro anos, uma situação catastrófica”onde “a pobreza, a miséria se alastra de forma nunca antes vista na história do Brasil, a violência, a desigualdade social”.
Em 2018, Bolsonaro conquistou mais do que o dobro de votos em Portugal do que Haddad, resultado que foi totalmente revertido no primeiro turno deste ano, onde o candidato de direita conquistou a metade do que Lula da Silva, sinalizando uma mudança completa no eleitorado perfil em território português, o maior circuito do Brasil no exterior.
Hoje, o Brasil tem “um governo que tem todas as características do fascismo, o que muito se fez na Europa nos anos 30 do século passado”, disse o estudante que veio da Bahia para estudar em Portugal e que há quatro anos já havia votado . no candidato do Partido dos Trabalhadores, à época Fernando Haddad.
A aluna do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas olha hoje “com sentimento de tristeza” para as declarações de Bolsonaro e recusou-se a comparar a corrupção do atual governo com o anterior.
Com Lula da Silva, houve mais casos “porque o ex-presidente deu autonomia suficiente para que a Polícia Federal realizasse seu trabalho investigativo, inclusive os que estão no poder”, o que não acontecia antes. Apesar disso, Lula “não é corrupto”, porque “foi absolvido”.
Nos últimos quatro anos, Portugal assistiu a uma nova vaga de imigração brasileira (um terço de todos os estrangeiros) elevando o número para um quarto de milhão de pessoas.
Elisângela Veríssimo, 38 anos, é imigrante há 18 anos e hoje está desempregada após anos trabalhando como doméstica. Ele não vai votar, mas se votasse, votaria no candidato da esquerda.
“Lula pode ser o que é, mas eu votaria no Lula”, porque “entre votar em ladrão e votar em psicopata, prefiro o ladrão”, disse. Porque o Lula “me surpreendeu, fez um bom trabalho”, disse, acrescentando: até “pode ter roubado, mas quem entra aí [no poder] quem não rouba?
Para Elisângela, “os melhores anos que as pessoas tiveram no Brasil foram na época de Lula”. Até “nós aqui em Portugal, os brasileiros, tínhamos alguns direitos com Lula em Portugal, com os acordos feitos entre Portugal e Brasil”.
Há quatro anos, se tivesse votado, teria escolhido Bolsonaro, comparado a Haddad. Então o atual presidente “period uma pessoa nova, ainda tinha algumas expectativas, period um militar”.
E é esta dimensão militar que seduz Ricardo Oliveira, que elogia o apoio de Bolsonaro à compra de armas, uma “excelente política, que impede o ladrão de entrar na sua casa”.
Mas “independentemente de esquerda ou direita, é difícil [lá]. E de facto vem muita gente”, acrescentou Ricardo Oliveira, insatisfeito com o seu país, tal como Elisângela, que também não quer regressar.
“Não tenho coragem de jogar meus filhos fora [um de 16 e outro de nove] hoje no Brasil. Para eles, é ser jogado na selva”, resumiu o imigrante.