leitores de Opção de jornal sugerem que o presidente Lula da Silva, ao manter a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, no governo, está “conluiando” com as milícias do Rio de Janeiro. Você tem que discordar porque o CEO não tem vínculo com as milícias do Rio ou de qualquer outro lugar.
Se sim, por que Lula da Silva não absolve Daniela Carneiro, que, segundo várias reportagens da Folha de S. Paulo, por intermédio do marido, o prefeito de Belford Roxo, Waguinho Carneiro, tinha ligações com a milícia?
Não tenho informações exatas sobre isso. Mas tenho a sensação de que a ministra Daniela Carneiro finalmente cairá. O governo certamente está ganhando tempo para retomar o diálogo com a Cúpula da União Brasil, especialmente com o senador Davi Alcolumbr, e dependendo dos desdobramentos, cobra a nomeação de um novo ministro (ou ministro).
As “táticas” do governo Lula da Silva são inteligentes. Permite que Daniela Carneiro se “esgote” cada dia mais para que a União Brasil, e não o governo, tome a decisão. Ou seja, os dirigentes partidários não poderão manter no cargo um aliado que prejudique a imagem do governo e da União Brasil. Eles, não petistas, vão “fritar” o ministro.
Ao fazer isso, o governo Lula da Silva está errado? Politicamente, não. O presidente precisa do apoio da Câmara dos Deputados e do Senado, por isso não vai jogar para agradar o público. Ele sempre agirá em bons termos com aqueles a quem deve governar sem muitos problemas.
No entanto, é claro que parece “ruim” para o PT e seus aliados de esquerda “defender” a talvez indefensável Daniela Carneiro e seu marido, que, sim, teriam ligações com a milícia, segundo reportagem da Folha, com “O Globo” e “Estadão”.
Ao longo dos anos, especialmente nos últimos quatro, a esquerda, não apenas o PT, tem criticado o ex-presidente Jair Bolsonaro – sugerindo que ele tem ligações com milicianos como Adriano da Nóbrega. Aliado Fabrício Queiroz, segundo diversos relatos, tinha ligação com milicianos do Rio de Janeiro.
Agora que a milícia está – ou estaria – próxima do governo, por meio da ministra Daniela Carneiro, a esquerda, principalmente o PT, está esquecida. Um quadro está se cristalizando: “os milicianos deles”, bolsonaristas, “eram ruins”, mas “os nossos são pelo menos razoáveis”, porque nos ajudam a ganhar eleições e, sobretudo, a governar.
Mas é injusto – e jornalisticamente impreciso – sugerir que os aliados de Lula da Silva trouxeram a milícia para o governo. Em primeiro lugar, Daniela Carneiro não é uma figura central na gestão vermelha. Em segundo lugar, as evidências da ligação do marido de Daniela Carneiro com a milícia foram reveladas e aparentemente confinadas ao Rio. Tão emblem o ministro deve cair. Nenhum governante, em sã consciência, concorda em ser bombardeado todos os dias por causa de uma pessoa.
Assim, por assim dizer, Daniela Carneiro já está em “chón”. Só falta a União Brasil para recolhê-lo. Porque Lula da Silva não trouxe a direita para o governo, pensando no presente, governista e talvez no futuro eleitoral, para defendê-la ele mesmo.
Para governar o país, o presidente deve desmobilizar parte da direita. Como? Manter a outra parte da direita no governo. Pela experiência de quem admite que não existe perfeição na terra, o PT sabe que o bolsonarismo lhe dará trabalho tanto no Congresso quanto nas ruas. Portanto, deve neutralizar a direita não bolsonista.
O realismo de Lula é o realismo de quem quer mandar, não brincar
O discurso de Lula da Silva na reunião ministerial foi, digamos, um realismo “chocante”. Maquiavel, Hobbes e Isaiah Berlin teriam ficado impressionados. Positivamente.
Parte da imprensa, que se alimenta de certo irrealismo político e existencial – parece acreditar em seres perfeitos ou ideais – considerou “duvidosa” a fala de Lula da Silva. E claro que não foi.
Lula da Silva dizia com todas as letras que aquele pastor que errar, e se o assunto for sério, vai ter que pedir chapéu. “Quem comete um erro sabe que só há um caminho: essa pessoa simplesmente, da forma mais educada possível, será convidada a deixar o governo. E se algo grave foi feito, essa pessoa terá que enfrentar a investigação e a própria justiça”, disse o presidente de forma clara e meridiana.
Em seguida, concluindo que seria questionável, Lula da Silva acrescentou: “Podem ter certeza que apoiarei cada um de vocês nos bons e nos maus momentos. Não vou deixar nenhum de vocês no meio do caminho.”
O que significa “floral”? Que o presidente afastasse alguém acusado de algum delito grave, mas sem difamá-lo publicamente e, portanto, sem entrar em uma possível caça às bruxas. Na verdade, Lula da Silva mantém seus aliados seguros. Porque não se pode afastar um ministro por mera “suspeita”, às vezes sem gravidade. Os ministros, portanto, têm proteção, ma non troppo. Isso nada mais é do que um recado do líder do PT.
Sem falar em Churchill, Roosevelt, Getúlio Vargas e Tancredo Neves, por não estar acostumado com a tradição bacharel do país, Lula da Silva provou aos ministros que foi escolhido para governar e não para brincar de “cozinheiro”. Até porque tem pouco tempo – o PT, 77, está velho e vai terminar o governo aos 81.
Dirigindo-se aos ministros, Lula da Silva disse: “Muitos de vocês são resultado de acordos, porque não faz sentido para nós que o governo formado formalmente em Harvard e não tenha voto na Câmara dos Deputados e nem voto no Senado. (…) Não há veto ideológico para falar e nem assunto proibido quando se trata do bem do povo brasileiro.”
Lula da Silva diz em muitas palavras: “Eu não sou Dilma Rousseff. Portanto, aliados e não aliados, deixem-me governar.” Essa frase, claro, não vem do presidente, mas reflete o que ele diz.
Longe de me envergonhar, o realismo de Lula da Silva me agrada. Admito que a presença de Daniela Carneiro e Waldez Góes no governo cheira, digamos, “ruim” (e não gosto, porque muita gente não gosta). Mas o que fazer? Nomear santos em seus lugares? E onde estão os santos? Há uma frase que não perde sua relevância: “Você quer pureza? Não vá a um mosteiro.”