O Brasil nunca registrou casos da doença, que atualmente tem surtos em países vizinhos; Campanhas de promoção do IMA e do Mapa
Surtos de gripe aviária mobilizam defesa da saúde | Crédito: divulgação
O aumento do número de surtos ativos de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP – vírus H5N1) na América do Sul, incluindo a confirmação de dois surtos de influenza aviária na Bolívia na última terça-feira, aumentou as preocupações de defesa e produtores no Brasil.
O país nunca teve um surto da doença, mas as medidas de proteção foram reforçadas. Isso porque a doença viral é altamente contagiosa e sua detecção tem consequências negativas para o comércio internacional de produtos avícolas.
Para manter o estado de saúde, os setores público e privado envolvidos na avicultura estão fazendo campanha para fortalecer as barreiras de biossegurança. A pronta notificação às autoridades de defesa sobre casos suspeitos também é considerada basic.
Segundo Izabella Hergot, veterinária, inspetora agropecuária do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e responsável pelo programa estadual de sanidade avícola, a gripe aviária – considerada “exótica” no país – é transmitida por um vírus e já atinge países em todo o mundo, principalmente na Ásia e na Europa, e agora na América do Norte e do Sul.
“A doença é transmitida pela migração de aves silvestres portadoras de vírus de baixa patogenicidade. Em contato com aves domésticas, esse vírus deixa de ser baixo e se torna altamente patogênico. Para manter o Brasil e Minas Gerais livres da doença, várias medidas e ações foram reforçadas”, alerta.
Izabella explica que em Minas Gerais o IMA tem intensificado atividades como a vigilância ativa, onde são coletados materiais de aves livres e em diversas granjas na presença ou ausência de sintomas.
Outra iniciativa é o trabalho preventivo. “Esse trabalho é manter os pássaros mais isolados. Tudo começou em 2007 em granjas comerciais de frangos de corte e galinhas poedeiras. Há mais de 10 anos, a indústria trabalha para aumentar a biossegurança das granjas – enfatiza o especialista.
Entre as medidas para isolar as aves está o reforço das telas dos galpões para impedir a entrada de aves em liberdade. As fazendas também possuem cercas de isolamento.
“Também fazemos campanhas com produtores. Temos que colocá-los em espera. Desde que chegou à América do Sul, é preciso ter ainda mais cuidado para que as aves caipiras não entrem em contato com as aves das fazendas. Também treinamos os servidores, lançamos brochuras e vídeos para manter todos os produtores atualizados.”
Outro ponto basic é a notificação imediata dos serviços de defesa em caso de sintomas respiratórios ou morte inesperada de aves domésticas e de vida livre.
“Assim que for feita a notificação, o IMA vai investigar se realmente é gripe aviária ou outra doença que trigger sintomas semelhantes. Detectando a suspeita, coletamos materials que será analisado no laboratório do Mapa em Campinas. Enquanto não sai o resultado, o imóvel está interditado e estamos investigando em torno disso. Nesse caso, tomamos medidas sanitárias, como o sacrifício de pássaros. O treinamento dos técnicos e a conscientização do fabricante são muito importantes para identificar suspeitas, notificar e agir o mais rápido possível.”



Quanto ao impacto econômico, Izabella destaca que as exportações ficam paralisadas nos casos positivos da doença, causando grandes prejuízos ao setor.
“O Brasil é hoje o terceiro maior produtor de carne de frango e o maior exportador mundial. Quando você testa positivo para gripe aviária, as exportações param imediatamente. Por isso, toda a cadeia avícola está em alerta. Não podemos perder essas exportações e por isso é um trabalho extenso que vem sendo feito em parceria com órgãos de defesa como a Emater, a iniciativa privada, a Associação Brasileira dos Produtores de Proteína Animal (ABPA)”, explicou.
Além do IMA, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou a campanha “Gripe Aviária? Aqui não!”. O objectivo da acção é sensibilizar os cidadãos, veterinários, avicultores e a Polícia Ambiental para a importância de comunicar imediatamente uma suspeita, atentar para comportamentos anormais ou possível mortalidade de aves comerciais, domésticas e selvagens e conhecer os básicos da prevenção.
O mapa recomenda a manutenção de medidas de vigilância e biossegurança nas fazendas para evitar o contato direto e indireto entre aves domésticas e selvagens, especialmente aves aquáticas migratórias.
O ministério destacou ainda que o período de maior migração de aves do hemisfério norte para a América do Sul ocorre entre novembro e abril. “Portanto, atualmente se trabalha para intensificar as atividades de vigilância por parte dos serviços veterinários oficiais e órgãos de proteção ambiental e fortalecer as medidas de biossegurança nas fazendas pelos produtores, a fim de detectar rapidamente a possível introdução da doença no país e mitigar o risco de sua propagação, “, explicou na nota.
A analista de agronegócios do Sistema Faemg, Mariana Simões, explica que a entidade está em conformidade com o IMA e está desenvolvendo diversas ações de conscientização entre os avicultores. Além disso, está em andamento um trabalho de fortalecimento do Fundo de Defesa Sanitária de Minas Gerais (Fundesa/MG).
O fundo, de natureza privada, visa atuar em especial nas atividades de prevenção e combate às doenças animais sob controle sanitário oficial, possibilitando o efetivo combate às zoonoses, o que favorece e consolida a conquista de mercados.
“Estamos trabalhando em sintonia com o IMA e também estamos trabalhando para aumentar a arrecadação do Fundesa, justamente para atender emergências como gripe e febre aftosa.”
Mariana destaca que a pronta notificação da suspeita da doença é importante para evitar a proliferação e agilizar os esforços de controle.
“Quando uma doença é detectada hoje, o nível comercial tem o maior impacto. Países que identificam animais positivos têm exportações em risco. No momento, isso pode soar como uma oportunidade para o Brasil, que tem um papel importante nas exportações, acrescentou o analista.
